quinta-feira, 11 de julho de 2013

As Tribos Urbanas


As tribos urbanas geralmente são reproduções em menor escala da sociedade de consumo como um todo. Você identifica-se com a estética daquela tribo, adota o mesmo padrão visual, de gosto musical, de comportamento e expressão e passa a pertencer aquele grupo, padronizando tudo o que o associe àquelas pessoas.

Punks, funkeiros, clubbers, skatistas, góticos, evangélicos, rappers, manos, bandidos, hipsters, rockers, artistas, metaleiros, forrozeiros, emos, skinheads, pagodeiros, adoradores de MPB, de música country, de música clássica, de videogames, jazzistas, indie rockers, bikers, cosplayers, ativistas políticos, cinéfilos, poestas, fotógrafos, atores, executivos etc etc e etc. A lista de opções é gigantesca, basta adotar uma que mais gosta, copiar toda a estética que o associe ao grupo..

Claro que é prazeroso identificar-se com algum grupo que curta as mesmas coisas, o problema é quando virar um "índio" da tribo, significa perder o contato com outras civilizações.

Conheço muito índio de tribo que não se mistura, aí torna-se uma pessoa bastante limitada, arredia à diversidade, passando a achar que sua opção de estilo e de tribo é a mais supimpa que há e que as demais pessoas não chegaram ao grau evolutivo de suas escolhas. Geralmente o índio de tribo xiita vira uma pessoa "boring" e quase sempre cafona.

Estes índios que não se misturam entram no mesmo ciclo de alienação da grande massa, só que em uma massa menor, achando que são "alternativos", quando na verdade estão fazendo o mesmo de sempre: copiar para ser aceito e usando a presunção para blindar-se de um fato curioso da vida humana, ou seja, que apesar da diversidade, todos somos humanos e parecidos nas angústias, medos, alegrias e formas de lidar com a existência.

Por isso, apesar de confessar que adoro as tribos urbanas em geral como forma de expressão, deixei de pertencer a uma única tribo há alguns anos e a fotografia urbana solitária me ampliou os horizontes para o fato que o ser alternativo mesmo é transitar por todas elas.

As pessoas mais alternativas que conheci até agora, ao longo dos meus 34 anos, foram sempre as pessoas que deixaram de ser índios de um só tribo e passaram a dar mais valor a própria identidade e expressão pessoal espontânea.

Estas pessoas não tem mais tanto medo da "imagem" que causam nos outros, pois geralmente transcenderam o "copiar para ser aceito". Absorvem o que lhes interessa de cada tribo, cada comportamento e forma de expressão, digerem tudo e devolvem suas próprias expressões para todos em todos os lugares por onde passam.

Por incrível que pareça, muitas das pessoas mais autênticas e alternativas que conheci foram os moradores de rua e os chamados de "loucos". Os primeiros porque passam a transitar por todos os grupos em todos os lugares.

Morar na rua por si só é sair do microcosmos da casa e da família, contemplar o espaço público como a própria casa e não apenas passar por ele, o morador de rua inevitavelmente desacelera o ritmo da vida e passa a observar as pessoas em geral e seus comportamentos repetitivos. Precisa virar mestre na arte de observar pessoas que se mostram diferentes, mas que escondem problemas iguais. A própria malandragem do morador de rua é aprender os pontos fracos dos "normais".

Já o segundo grupo, o dos loucos, é o mais vulnerável, porém talvez o mais livre e autêntico. São pessoas que desistiram de tentar pertencer aos grupos, todos eles e criam suas próprias realidades. Não que os loucos sejam os mais felizes, longe disso, mas são os que mais se afastam do grupo para viverem suas próprias vidas. Deveriam ser mais respeitados e observados!

Por fim, acho que é por isso que tanto os moradores de rua, como os loucos me interessam tanto. É com esta "tribo" que eu realmente mais me identifico hoje em dia. 





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